Em 14 de outubro, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul suprimiu a greve de 13 dias dos trabalhadores da General Motors após uma votação massiva a favor da sua continuação na mesma manhã.
Imediatamente após a votação, o sindicato dirigiu-se à imprensa, declarando ao Diário do Grande ABC que “mais de 70% dos funcionários já estão retornando às atividades”. A sabotagem aberta do sindicato à greve dos trabalhadores da GM foi publicada na sua página oficial, com o presidente do sindicato Aparecido da Silva, Cidão, declarando: “Obviamente que o sindicato respeita a posição da assembleia, porém decisão judicial deve ser acatada”.
A decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, imposta pela traição do sindicato, implicará nos trabalhadores recebendo menos da metade do vale-alimentação reivindicado; nos recém-contratados continuando em risco de serem demitidos se sofrerem um acidente de trabalho, incluindo por contaminação com COVID-19; entre outras concessões do contrato acordado entre a GM e o sindicato.
Os trabalhadores haviam rejeitado por várias semanas as manobras da empresa e do sindicato, que colocaram em pauta versões quase idênticas da proposta de contrato inicial, que em adição exigia o congelamento dos salários até 2023.
Na quarta-feira da semana passada, o sindicato ficou alarmado diante de uma votação unânime rejeitando a “última proposta” da empresa, que já havia pedido ao TRT que declarasse a greve “abusiva”. A votação dos trabalhadores implicava em manter a greve desafiando o tribunal.
Na quinta-feira, após a decisão que tornava ilegal a continuação da greve, os trabalhadores mostraram que estavam prontos para levar adiante uma luta para recuperar os seus salários e benefícios, corroídos pela alta dos preços durante a pandemia, além de reverter concessões extorquidas pela empresa com o auxílio do sindicato ao longo de vários anos.
A revolta dos trabalhadores foi relatada pelo DGABC: “Houve vaias durante a assembleia da tarde. No momento da votação do encaminhamento, a maior parte dos trabalhadores levantou a mão em favor da continuidade da greve. Após o fim da reunião, houve bate-boca e princípio de agressão entre alguns metalúrgicos e a direção [do sindicato]”.
Após os turnos da manhã e da tarde terem votado a favor da continuação da greve, o sindicato recusou-se a levar adiante a decisão da assembleia, isolou os grevistas e orientou trabalhadores individualmente a obedecerem às convocações da GM para que retornassem à linha de produção.
Durante a greve, enquanto os trabalhadores de São Caetano eram ameaçados pela GM, Cidão declarou nas assembleias que o sindicato não faria nada para proteger os trabalhadores de represálias da empresa, recomendando o “fim da greve porque nós não queremos ver os trabalhadores na rua”. Ele também defendeu abertamente um passe livre aos fura-greves, dizendo: “Não vamos fazer piquete, não vamos forçar ninguém a não trabalhar, nós vamos contar com a compreensão de cada um”. Após 13 dias dessas manobras sujas, auxiliando a GM a intimidar os trabalhadores, o sindicato conseguiu impor o fim da greve.
Um trabalhador relatou: “A gente sabe que o pessoal tem medo de perder emprego. Uma parte dos funcionários retornou ao trabalho por pressão do RH (Recursos Humanos) e de lideranças (supervisores)” e outro disse: “O sindicato tinha de estar ao nosso lado, mas nos jogou na cova dos leões”.
Ao longo da greve, o sindicato procurou isolar os trabalhadores de uma luta unificada com as outras fábricas da GM no Brasil e pelo mundo, em meio a amplos cortes na indústria automotiva global que sofre com a falta de componentes.
Nas últimas semanas, o grupo Stellantis e a Volkswagen anunciaram no Brasil o lay-off de 1,8 mil e 1,5 mil trabalhadores, respectivamente, com duração de até 5 meses. A Honda e a Renault abriram programas de demissão voluntária. A greve na GM foi iniciada após a empresa anunciar unilateralmente em setembro que adiaria a reposição dos salários para o ano que vem.
Os trabalhadores precisam tirar as lições dessa experiência. Longe de ser um fenômeno isolado da fábrica de São Caetano, o papel do sindicato de cúmplice da empresa se repete em toda a indústria.
Há muito tempo os sindicatos deixaram de ser organizações de defesa dos trabalhadores, transformando-se sob a globalização da produção em representantes da administração dentro das fábricas, impondo os ditados das empresas e suprimindo qualquer oposição.
Em 2019, após o anúncio do fechamento da fábrica da Ford em São Bernardo do Campo, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e por muitos anos um bastião do Partido dos Trabalhadores (PT), trabalhou durante meses para suprimir a oposição dos trabalhadores.
A greve de 42 dias dos trabalhadores da Ford contra o fechamento foi derrubada após ser mantida isolada dos trabalhadores automotivos da região industrial do ABC e das outras fábricas da empresa em diversos estados, incluindo 20 mil trabalhadores de autopeças diretamente afetados pelo fechamento.
Durante meses, o sindicato promoveu a compra da fábrica pelo Grupo Caoa, condicionada à demissão de dois terços dos funcionários como forma de “salvar empregos” e mandou os trabalhadores grevistas aguardarem as negociações em casa. A campanha reacionária do sindicato ao longo de meses, que deixou aos chefes das empresas a decisão sobre o futuro dos trabalhadores, foi completamente desmascarada quando o Grupo Caoa decidiu não comprar a fábrica.
No início deste ano, os sindicatos responderam ao anúncio da saída da Ford do Brasil mantendo as lutas dos trabalhadores de vários estados isoladas entre si e preparando as melhores condições para a saída da empresa sem uma luta. Em Taubaté, onde uma vigília de operários foi organizada para impedir a retirada das máquinas da fábrica, o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté (Sindimetau), filiado à CUT, organizou uma procissão religiosa para rezar contra o fechamento, enquanto defendia que os trabalhadores confiassem nos tribunais para obrigar a permanência da empresa.
Estima-se que 118 mil empregos tenham sido destruídos com o fechamento das fábricas da Ford.
A luta dos trabalhadores não pode ser deixada sob o controle dos sindicatos nem das organizações políticas da pseudoesquerda, que dividem a luta dos trabalhadores, culpando os companheiros de classe dos trabalhadores brasileiros na China, Estados Unidos e Europa pelos cortes de empregos e fechamentos de fábricas.
Em uma reunião nacional de representantes sindicais após o anúncio do fechamento das fábricas da Ford, o candidato à prefeitura de São Paulo em 2021, Guilherme Boulos do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), declarou ao lado do presidente do SMABC: “O projeto deles é fazer do Brasil uma fazenda da China, da Europa, dos EUA, só produzir soja e milho para exportar lá fora e aqui dentro ainda com inflação alta no preço dos alimentos”.
A declaração de Boulos ecoou aquela do presidente fascistoide Jair Bolsonaro feita alguns dias antes: “Tem a concorrência, chinesa, entre outros. [A empresa] saiu porque, no ambiente de negócios, se você não tem lucro, você fecha”.
A defesa dos empregos e salários dos trabalhadores brasileiros só é possível pela unificação das suas lutas à dos trabalhadores ao redor do mundo contra a classe capitalista e não através de qualquer compromisso com as burguesias nacionais e seus interesses de lucro.
Em meio a uma onda de greves dos trabalhadores nos Estados Unidos, os sindicatos americanos estão se esforçando para suprimir o movimento que foge do seu controle. O sindicato de trabalhadores automotivos United Auto Workers (UAW) está empenhado em isolar a greve de 10 mil operários da fabricante de máquinas agrícolas John Deere, que recusaram o contrato proposto pelo sindicato, dos seus colegas nos EUA e ao redor do mundo.
Representantes do UAW estiveram presentes na assembleia em São Caetano, auxiliando o sindicato da Força Sindical a trair a greve dos trabalhadores da GM. Em retribuição, sindicalistas do Sindicato dos Metalúrgicos de Catalão – onde está localizada uma das principais fábricas da John Deere no Brasil – publicaram em nome da Força Sindical um vídeo fraudulento de apoio à greve dos trabalhadores da Deere nos EUA.
Dois dias após essa central ter sabotado a greve na GM, os sindicalistas declararam que “se for preciso, nós vamos até fazer paralisações aqui para dar cada dia mais apoio”. O verdadeiro objetivo dessa campanha é prevenir que os trabalhadores no Brasil e nos Estados Unidos levantem uma poderosa união contra as empresas capitalistas transnacionais que os exploram.
Os trabalhadores precisam se organizar independentemente e em oposição aos sindicatos, que colaboram com as empresas há anos para cortar empregos, salários e condições de vida. Os trabalhadores da GM em São Caetano e por todo o Brasil devem formar comitês de base e articular suas lutas internacionalmente através da Aliança Operária Internacional da Comitês de Base (AOI-CB).