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Perspectivas

Will Lehman, candidato socialista à presidência do UAW, recebe quase 5.000 votos apesar da supressão burocrática da eleição

Publicado originalmente em 5 de dezembro de 2022

Will Lehman, um trabalhador da Mack Trucks e candidato socialista à presidência do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automotiva (UAW), obteve 4.777 votos, ou quase 5% dos 103.495 votos, de acordo com a contagem não oficial divulgada por um monitor nomeado pela justiça na sexta-feira.

O amplo apoio que Lehman recebeu de trabalhadores de todo os EUA reflete o rápido desenvolvimento da radicalização política da classe trabalhadora americana. A votação explode o mito de que os trabalhadores nos Estados Unidos são intrinsecamente hostis ao socialismo.

Will Lehman concorreu como socialista e internacionalista e apoiador da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base. Seu apoio às políticas do Partido Socialista pela Igualdade não é segredo. Ele exigiu o desmantelamento e a abolição da burocracia pró-corporativa do UAW e a transferência do poder para os trabalhadores no chão de fábrica. Lehman deixou clara sua oposição ao sistema capitalista e exigiu o fim da propriedade privada da indústria automobilística.

Longe de alienar os trabalhadores automotivos, as convicções políticas e a militância de Lehman lhe renderam amplo apoio entre os trabalhadores em diferentes áreas do UAW por todos os Estados Unidos. Em fábricas em estados onde os trabalhadores são rotineiramente apresentados como de direita - como Kentucky, Tennessee, Ohio, Iowa, Missouri e outros - ele recebeu entre 4% e 8% dos votos. Há um número significativo de fábricas onde Lehman - um dos cinco candidatos presidenciais - recebeu pelo menos 10% dos votos.

Na fábrica onde ele trabalha na Pensilvânia, Lehman obteve quase 20% dos votos.

Os 4.777 votos recebidos por Lehman não são uma medida completa e precisa do apoio à sua candidatura. É evidente, com base na contagem final de todos os votos, que a burocracia do UAW corrompeu a eleição com uma operação maciça de supressão de votos.

Menos de 10% dos membros do UAW aptos a participar da eleição votaram. De um total de mais de 1 milhão de membros, apenas 100.000 votos foram registrados e contados, de acordo com os números do monitor do UAW. O comparecimento abismal não se deve à “apatia” dos trabalhadores, como afirmam a burocracia e seus apologistas, mas sim porque uma parcela significativa dos membros do UAW não sabia que uma eleição estava ocorrendo. Dezenas de milhares, e possivelmente até centenas de milhares, de membros do UAW não receberam a cédula eleitoral.

A demonstração mais gritante da supressão da eleição é mostrada no total de votos registrados entre pesquisadores universitários da Costa Oeste:

· No sistema da Universidade do Estado da Califórnia, dos 11.000 membros da Área 4123 do UAW, foram apenas 29 votos. Isso significa que apenas 0,26% dos membros votaram.

· Na Área 4121 da Universidade de Washington, com 9.000 membros, apenas 72 membros votaram, uma participação de 0,8%.

· No sistema da Universidade da Califórnia, na Área 5810, apenas 328 membros votaram e a Área 2865 contou com a participação eleitoral de 921 membros. Atualmente, há 48.000 membros do UAW entrando em sua quarta semana de greve em todo o sistema da UC, mas o comparecimento na eleição do UAW foi inferior a 3%. É simplesmente inacreditável que dezenas de milhares de trabalhadores em meio a uma greve corajosa e abnegada não tenham votado por “apatia”.

Em centenas de Áreas do UAW em outros lugares, o comparecimento às urnas também foi inferior a 10%. Sob tais condições, a única conclusão plausível é que a burocracia da Casa de Solidariedade reprimiu deliberadamente o voto e violou o direito democrático de participação em uma eleição legítima.

O aparato sindical corrupto, temendo de uma crescente militância entre os trabalhadores e desesperado para se agarrar ao poder, trabalhou para manter os trabalhadores no escuro sobre a eleição tanto quanto possível. A burocracia - e por trás dela, os poderosos interesses corporativos e políticos - optaram por confinar a corrida a seus candidatos favoritos, o presidente em exercício Ray Curry e o representante internacional do UAW Shawn Fain, um membro de longa data da máquina da Casa de Solidariedade.

Mas nenhum dos dois candidatos conseguiu reunir apoio substancial, recebendo cada um menos de 40.000 votos, ou menos de 4% do total de membros aptos a votar.

Ao calcular o apoio real para Ray Curry e Shawn Fain, os dois candidatos da Casa de Solidariedade, deve-se notar que uma parte substancial de seus votos veio dos milhares de burocratas que são empregados pelo UAW. A Casa de Solidariedade utilizou um sistema de comunicação interna, conhecido como LUIS, para garantir que os membros desta camada privilegiada recebessem as cédulas e votassem.

O monitor do UAW - que durante toda a eleição permitiu em grande parte que a burocracia atropelasse os direitos dos trabalhadores - disse que Curry e Fain irão para o segundo turno em janeiro. Mas qualquer corrida eleitoral desse tipo entre esses dois candidatos seria totalmente ilegítima.

Em uma declaração divulgada no domingo, Will Lehman exigiu que todos os cinco candidatos que foram nomeados na recente Convenção Constitucional do UAW participassem da votação do segundo turno. “Neste contexto”, disse Lehman, “aceitar um ‘segundo turno’ entre Curry e Fain seria um escárnio aos direitos dos trabalhadores. É por isso que estou exigindo que todos os candidatos participem do segundo turno. Desta vez, porém, toda os membros devem ser informados da eleição e poder votar na mesma.”

A campanha de Lehman mobilizará a oposição aos planos da Casa de Solidariedade para restringir o segundo turno eleitoral entre Curry e Fain. Tendo feito com que 90% dos membros do sindicato não participassem do processo de votação, o UAW planeja manter os outros três candidatos presidenciais - Will Lehman, Brian Keller e Mark Gibson - fora do segundo turno eleitoral.

A minúscula participação eleitoral fundamenta o processo movido por Lehman contra o UAW e o monitor do UAW antes da contagem dos votos. No processo, Lehman solicitou uma prorrogação de 30 dias dos prazos de votação e medidas reais para assegurar que todos os membros do UAW fossem informados sobre a eleição.

O aparato do UAW e o monitor, assim como o Departamento do Trabalho da administração Biden, se alinharam contra o processo movido por Lehman. Incapazes de responder adequadamente às reivindicações de Lehman de que os direitos dos trabalhadores estavam sendo violados, eles, ao invés disso, argumentaram que a justiça não tinha jurisdição para ouvir o processo, e que faltava a Lehman “legitimidade”, uma vez que ele havia recebido uma cédula.

O juiz que recebeu o processo reconheceu a seriedade dos argumentos de Lehman, escrevendo que eles “devem causar preocupação de que uma baixa participação dos membros possa expressar resultados eleitorais que não sejam genuinamente representativos da vontade dos eleitores”. No entanto, o juiz mesmo assim se colocou do lado do aparato do UAW e arquivou o caso em uma decisão cínica que expressou indiferença ao fato de que os direitos democráticos dos trabalhadores estavam sendo violados.

A campanha de Lehman já deu voz a uma ampla rebelião de base que está se esforçando para pôr fim às perdas de direitos e quebrar o domínio ditatorial do aparato sindical reacionário. Ela proporcionou um poderoso impulso para a expansão do trabalho da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base, que transferirá o poder dos sindicatos pró-capitalistas e corporativistas para os trabalhadores.

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